A distorção da memória

By on maio 11, 2020 in Ciência do Dia a Dia with 0 Comments

Aprendemos quando crianças que, ao atravessar a rua, devemos primeiro olhar para a esquerda, depois para a direita e, finalmente, mais uma vez para a esquerda e por fim, atravessar.

Se vemos um carro e um ciclista se aproximando quando olhamos para a esquerda, essa informação é armazenada em nossa memória de curto prazo. Durante a segunda olhada à esquerda, nossa memória de curto prazo relata: bicicleta e carro já estavam lá antes, são os mesmos, ainda estão longe o suficiente.

Porém nossa memória de curto prazo nos engana. Ao olhar para a esquerda pela segunda vez, nossos olhos vêem algo completamente diferente: a bicicleta e o carro já não têm mais a mesma cor porque agora estão passando pela sombra de uma árvore, não estão mais no mesmo local, e o carro talvez esteja se movendo mais devagar. O fato de reconhecermos imediatamente a bicicleta e o carro se deve ao fato de que a memória do primeiro olhar para a esquerda influencia a segunda.

Cientistas da Universidade Goethe, liderados pelo psicólogo Christoph Bledowski e pela aluna de doutorado Cora Fischer, reconstruíram a situação do transito abstratamente no laboratório.

No estudo, os alunos foram instruídos a lembrar a direção do movimento de pontos verdes ou vermelhos que se moviam pelo monitor. Durante cada tentativa, a pessoa do teste via dois campos de pontos em movimento em uma sucessão rápida e relatava posteriormente a direção do movimento de cada um desses campos de pontos. Em testes adicionais, os dois campos de pontos foram mostrados simultaneamente um ao lado do outro. Todas as pessoas que realizaram o teste, fizeram inúmeras tentativas sucessivas.

Os cientistas estavam interessados ​​nos erros cometidos pelas pessoas testadas e em como esses erros eram sistematicamente conectados em tentativas sucessivas. Se, por exemplo, os pontos observados se moviam na direção de 10 graus e no ensaio a seguir na direção de 20 graus, a maioria das pessoas relatava 16 a 18 graus no segundo ensaio.  Ou seja, a direção do primeiro julgamento distorceu a percepção do seguinte sistematicamente.

O ligeiro “embaçamento” da nossa percepção pela memória nos leva a perceber o nosso ambiente, cuja aparência muda constantemente devido a mudanças de movimento e luz, como estáveis. As informações contextuais nos ajudam a diferenciar entre diferentes objetos e, consequentemente, a integrar informações do mesmo objeto ao longo do tempo.

Nesse processo, mesmo que haja mudanças, nossa memória as ignora e mantém apenas as informações do que é mais importante para a nossa sobrevivência, nesse caso específico, a distância para nos manter em segurança. É, parece realmente nossa memória nos engana, mas não podemos esquecer que é pro nosso próprio bem.

Referências:

. https://www.nature.com/articles/s41467-020-15874-w

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About the Author

About the Author: É Neurocientista, Palestrante, Yoguini, Influenciadora Digital e Produtora de eventos na Círculo Produções (http://www.circuloproducoes.com). Já foi Dj, dona de loja, garçonete, assistente de cobrança, vendedora, professora de universidade, webdesigner, fotógrafa, especialista em logística de piloto e dona de Club. Ama a música, o cérebro, o universo, a ciência e escrever. .

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