Por que racionalizamos nossos erros?

By on maio 15, 2020 in Ciência do Dia a Dia with 0 Comments

Sim, acontece com todos nós. Temos dificuldade em admitir quando estamos errados, e, ainda pior, odiamos admitir que algo lógico para nós é falho. Por isso, racionalizamos, justificamos e, às vezes, ficcionalizamos nossas histórias, contando mentiras para nós mesmos para subestimar nossos erros e fazer com que nossas escolhas e comportamentos pareçam menos defeituosos. É, a racionalização nos ajuda a dormir melhor à noite.

Provavelmente você deve estar lendo esse texto e pensando: “Eu não faço isso”, mas você faz. Ninguém é imune à auto-justificação até certo ponto, e tá tudo bem. Algumas descobertas recentes sugerem que esses comportamentos não são totalmente nossa culpa. Nosso cérebro trabalha em excesso para preservar nossa auto-imagem e apoiar nossas atitudes, mesmo quando as evidências indicam o contrário. A mente nos tranquiliza, por isso, muitas vezes não percebemos que está moldando nosso comportamento.

Esse fenômeno se chama dissonância cognitiva, termo cunhado pelo psicólogo social Leon Festinger. A dissonância cognitiva ocorre sempre que uma pessoa mantém duas idéias, crenças ou opiniões conflitantes e busca maneiras de reduzi-las e equilibrá-las, mesmo que saiba que são erradas.

O exemplo mais clássico é o dos fumantes (pode-se trocar por excessos de doce, álcool e muitas outras variáveis), algumas pessoas fumam dois ou mais maços por dia e, embora saibam que os cigarros são bastante prejudiciais, preferem se convencer de que não é o caso com justificativas engenhosas e auto-ilusórias: “Fumar não é tão prejudicial quanto as pessoas dizem” e “Fumar me ajuda a relaxar e afastar o estresse, um risco à saúde em si.”

A autojustificação não apenas tenta entender nossos erros e más decisões, mas também permite obscurecer a discrepância entre nossas ações e nossas convicções morais. Ao usá-la para manter nossa auto-estima em equilíbrio, ficamos alheios às mentiras e às palavras tranquilizadoras que sussurramos para nós mesmos.

Para investigar a dissonância cognitiva, alguns neurocientistas da Universidade da Califórnia, usaram a ressonância magnética funcional (fMRI) para estudar o cérebro de voluntários que foram escolhidos para experimentar a dor psicológica de crenças e ações conflitantes.

Os Estudos demostraram que, quando somos confrontados com informações dissonantes e usamos a racionalização para compensar, as áreas mais racionais do nosso cérebro diminuem suas conexões e ficam mais inativas, enquanto os circuitos emocionais do cérebro se ativam mais. Ou seja, nesse momento, as emoções superam a lógica.

Os pesquisadores também concluíram que, uma vez que nossas mentes estão decididas, é difícil mudá-las. Mesmo ao ler informações que vão contra o nosso ponto de vista inicial, acabamos por utilizá-las para justificar que estávamos certos. Quanto maior a dissonância cognitiva que as pessoas sentem, maior a probabilidade de mudar suas crenças e simplificá-las com suas ações.

Confiamos em nossa memória para nos informar sobre o que aconteceu no passado, mas, ela pode e fica distorcida em direções auto-aperfeiçoadoras. Muitas vezes, ela é podada e moldada pelos nossos vieses. Gradualmente, podemos começar a pensar que uma situação não foi inteiramente nossa culpa ou que era muito complexa para lidar adequadamente. Em pouco tempo, podemos nos convencer a acreditar em uma versão alternativa do que realmente pode ter acontecido.

A distorção é necessária para manter nossa autopercepção consistente. A teoria da dissonância prevê que eventualmente (e convenientemente) esqueceremos os bons argumentos feitos pelos oponentes, assim como esquecemos os argumentos tolos que fizemos. Isso nos ajuda a desconsiderar informações discrepantes e seletivas que não estão alinhadas com o que queremos acreditar.

Desafortunadamente, ninguém está imune à necessidade de reduzir a dissonância, mesmo aqueles que conhecem a teoria por dentro e por fora. Na realidade, somos todos loucos por um final feliz, mesmo que tenhamos que compensar a nós mesmos ou até juntar peças com fita. Tornar-se mais consciente de nossos processos de pensamento, faz com que possamos reconhecer erros sérios em vez de justificá-los.

Se entendermos como e quando reduzir a dissonância, podemos nos tornar mais vigilantes sobre o processo e frequentemente cortá-lo pela raiz. Observando nossas ações de forma crítica e desapaixonada, temos a chance de romper o ciclo de auto-justificação. Como resultado, nos permitimos fazer escolhas conscientes mais precisas, em vez de deixar que mecanismos automáticos e de autoproteção resolvam nosso desconforto a nosso favor.

Referências:

. https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/19759538

. McLeod, S. A. (2018, Febuary 05). Cognitive dissonance. Simply Psychology. https://www.simplypsychology.org/cognitive-dissonance.html

Tags: , , , , , , , , , , , , , , , ,

About the Author

About the Author: É Neurocientista, Palestrante, Yoguini, Influenciadora Digital e Produtora de eventos na Círculo Produções (http://www.circuloproducoes.com). Já foi Dj, dona de loja, garçonete, assistente de cobrança, vendedora, professora de universidade, webdesigner, fotógrafa, especialista em logística de piloto e dona de Club. Ama a música, o cérebro, o universo, a ciência e escrever. .

Subscribe

If you enjoyed this article, subscribe now to receive more just like it.

Post a Comment

O seu endereço de e-mail não será publicado.

13 − cinco =

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.

Top