Por que paramos de nos mover para poder ouvir bem alguém?

By on agosto 30, 2014 in Ciência do Dia a Dia with 0 Comments

article-2348757-1A833FC7000005DC-645_634x401Já reparou que às vezes, quando estamos falando no celular com alguém temos que parar para poder entender o que o outro está falando? Pois bem, esta estratégia nos ajuda a ouvir melhor porque anula sons indesejados gerados por nossos movimentos.

Essa interação entre movimento e audição também possui uma profunda correspondência no cérebro. Evidências indiretas tem sugerido que o córtex motor cerebral, um dos responsáveis pelo controle do movimento, de alguma forma, influencia o córtex auditivo, dando origem à nossa percepção consciente do som.

Um novo estudo, publicado na revista Nature, revela exatamente como o córtex motor, pode aparentemente, ajustar o controle de volume no córtex auditivo na antecipação do movimento.

O novo método de estudo do laboratório permitiu ao grupo “ir além de observações correlativas válidas por mais de um século, e desenvolver uma nova e difícil visão realista de como o Cérebro funciona” diz o autor do estudo Richard Mooney,  professor de neurobiologia da Escola de Medicina da Universidade Duke, e membro do Instituto Duke de Ciências do Cérebro.

walking-and-talkingOs resultados contribuem para o conhecimento básico de como a comunicação entre o córtex motor e auditivo do cérebro pode afetar a audição durante um discurso ou uma performance musical. Interrupções no mesmo circuito podem dar origem a alucinações auditivas em pessoas com esquizofrenia.

Em 2013, pesquisadores liderados por Mooney caracterizaram primeiramente as conexões entre as áreas motoras e auditivas em fatias do cérebro de ratos, bem como em ratos anestesiados. O novo estudo revela a questão fundamental de como essas conexões operam em ratos acordados e em movimento.

“Este é um grande passo pois o animal está se comportando livremente”, diz David Schneider, um associado de pós-doutorado no laboratório de Mooney.

Mooney suspeita que o córtex motor aprenda a silenciar respostas no córtex auditivo para sons que espera que surjam a partir de seus próprios movimentos ao mesmo tempo que aumenta a sensibilidade a outros sons inesperados. O grupo está atualmente testando essa hipótese.

“Nosso primeiro passo será começar a proporcionar situações mais realistas onde o animal necessite ignorar os sons que seus movimentos estão fazendo a fim de detectar as coisas que estão acontecendo no mundo”, diz Schneider.

cortexNo último estudo, a equipe gravou a atividade elétrica de neurônios individuais do córtex auditivo no cérebro de ratos. Sempre que os ratos se moviam, andavam, se preparavam para mover, ou faziam ruídos, seus neurônios no córtex auditivo eram amortecidos em resposta a tons tocados para os animais e comparados aos quando  estavam em repouso.

Para descobrir se o movimento havia sido diretamente influenciando o córtex auditivo, os pesquisadores realizaram uma série de experimentos nos animais acordados usando a optogenética, um método poderoso que usa a luz para controlar a atividade de certas populações de neurônios sensibilizados geneticamente à luz.  “A optogenética pode ser usada para activar um passo específico na rede, neste caso, o penúltimo nó que retransmite os sinais para o córtex auditivo,” diz Mooney.

Foi verificado que cerca de metade da supressão durante o movimento foi originada dentro do próprio córtex auditivo. “Isso diz muito da modulação que está acontecendo no córtex auditivo, e não apenas nas etapas anteriores no sistema auditivo”, diz Mooney. A equipe descobriu que o movimento estimula neurônios inibitórios os quais, por sua vez, suprimem a resposta do córtex auditivo para sons.

walktalkA equipe sabia de experiências anteriores que as projeções neuronais do córtex motor secundário (M2) modulam o córtex auditivo e usou novamente a optogenética para ligar e desligar as entradas do M2 para os neurônios inibitórios.

Ativar as entradas da M2 reproduziu uma sensação de movimento no córtex auditivo, mesmo em camundongos que estavam descansando,. “Nós estávamos enviando um sinal de ‘Ei, eu estou movendo’ para o córtex auditivo”, diz Schneider.
O efeito de tocar um tom no córtex auditivo foi o mesmo atingido caso o animal tivesse realmente se movimentado. Um resultado que confirmou a importância da M2 na modulação do córtex auditivo.

Por outro lado, desativar a M2 simulou um descanso no córtex auditivo, mesmo quando os animais estavam ainda em movimento.

“Eu não pude conter a minha emoção quando vi pela primeira vez esse resultado”, diz Anders Nelson, um estudante de graduação da neurobiologia no grupo de Mooney.
A Fundação Helen Hay Whitney , a Bolsa de estudos em ciências do cérebro da Holland-Trice, e os Institutos Nacionais de Saúde apoiaram o trabalho.

 

Referências:

http://www.nature.com/nature/journal/vaop/ncurrent/full/nature13724.html

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About the Author: É Neurocientista, Palestrante, Yoguini, Influenciadora Digital e Produtora de eventos na Círculo Produções (http://www.circuloproducoes.com). Já foi Dj, dona de loja, garçonete, assistente de cobrança, vendedora, professora de universidade, webdesigner, fotógrafa, especialista em logística de piloto e dona de Club. Ama a música, o cérebro, o universo, a ciência e escrever. .

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