A Neurociência da Mentira.

By on agosto 23, 2020 in Neuromundo with 0 Comments

O filme “O Primeiro Mentiroso” mostra uma sociedade na qual só se fala a verdade. Um dia o personagem principal acaba por mentir sem querer por estar passando por complicações financeiras. Como nessa sociedade ninguém mente, todos acham que ele está falando a verdade e ele começa a mentir sem parar. Ele acaba ficando bastante famoso por suas mentiras, porém chega um momento em que sua vida fica bastante complicada. É, parece que é fácil, mas a real é que mentir dá muito trabalho, principalmente para o seu cérebro.

O dicionário define a mentira como o ato de mentir, de não falar a verdade. Certamente a mentira não é a mesma coisa que uma traição ou uma omissão de informação, apesar de fazer parte das mesmas, porém ela vai um pouco além do simples não falar a verdade. Para mentir é preciso se esforçar muito, pois além de ter que suprimir a verdade, é necessário também substituí-la por outra coisa no lugar e isso requer uma enorme habilidade, auto-controle e imaginação.

Mentir não é um componente importante somente do repertório comportamental humano; estudos demonstram que muitos primatas também mentem e, devo confessar que já vi meu cachorro mentindo e tentando me manipular para barganhar uma comida. Quando as pessoas falam a verdade nua e crua o tempo todo, como pode acontecer  em alguns casos da doença de Parkinson ou em certas lesões no lobo frontal, elas tendem a ser julgadas como sem tato e até mesmo ofensivas. Pois é, essa é a sociedade em que vivemos.

Vários estudos confirmaram o papel do córtex pré-frontal na mentira. Esses estudos contribuem para a visão de que mentir geralmente requer mais esforço do que dizer a verdade.  Particularmente interessante foi que os estudos mostraram que os mentirosos tiveram atividade aumentada nas regiões de controle do córtex pré-frontal, não apenas quando optaram por se comportar de forma desonesta, mas também quando lançaram verdades ocasionais para distrair das mentiras.

O interessante desses estudos é observar o quanto de stress e gasto de energia é utilizado quando mentimos. Infelizmente, em alguns momentos de nossas vidas, nos vemos obrigados a mentir, mesmo quando não queremos. Às vezes por educação ou para não desapontar uma pessoa.

Aparentemente um pouco de fingimento parece suavizar as relações humanas sem causar danos permanentes. Mas já parou para pensar em como seria o mundo se todos falassem só a verdade? Já parou para pensar se sua vida não seria melhor, caso você não tivesse que inventar tanta história por aí? Já parou pra pensar também no tanto de história que é inventada pra você pelos seus amigos, familiares, políticos e afins? Vale a reflexão. Enquanto isso, finalizo aqui com a célebre frase do querido Dr. House: “Todo mundo mente.”

Referências:

Cues to Deception. B. M. DePaulo et al. in Psychological Bulletin, Vol. 129, No. 1, pages 74–118; January 2003.

Patterns of Neural Activity Associated with Honest and Dishonest Moral Decisions. Joshua D. Greene and Joseph M. Paxton in Proceedings of the National Academy of Sciences USA, Vol. 106, No. 30, pages 12,506–12,511; July 28, 2009.

From Junior to Senior Pinocchio: A Cross-Sectional Lifespan Investigation of Deception. Evelyne Debey et al. in Acta Psychologica, Vol. 160, pages 58–68; September 2015.

Lying Takes Time: A Meta-analysis on Reaction Time Measures of Deception. Kristina Suchotzki et al. in Psychological Bulletin, Vol. 143, No. 4, pages 428–453; April 2017.

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About the Author: É Neurocientista, Palestrante, Yoguini, Influenciadora Digital e Produtora de eventos na Círculo Produções (http://www.circuloproducoes.com). Já foi Dj, dona de loja, garçonete, assistente de cobrança, vendedora, professora de universidade, webdesigner, fotógrafa, especialista em logística de piloto e dona de Club. Ama a música, o cérebro, o universo, a ciência e escrever. .

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