A música e a guerra – Tortura musical

By on setembro 23, 2013 in MusicaMente with 3 Comments

Pode até parecer um trocadilho irônico; realmente devo confessar que já sofri muita tortura musical. Quantas não foram às vezes em que fui obrigada a ouvir músicas horríveis, horas a fio, sem poder fazer nada a respeito. Mas não, não é desse tipo de tortura que estou falando. Estou falando da tortura real, aquela que é usada para obter informações sobre um inimigo.

chinese water torturePois é, pelo visto, a música é uma grande aliada da tortura, sendo muito usada e praticada por todas as culturas, desde os primórdios da história da humanidade. A famosa tortura chinesa, A Gota, é uma das piores torturas já criadas e consistia em deixar por mais de 2 meses um prisioneiro numa solitária, amarrado e sentado embaixo de uma torneira que pingava água em sua cabeça, constantemente. No início apenas incomoda pelo fato de estar molhando, mas depois, o barulho dos pingos na cabeça começa a se tornar insuportável e, mais tarde, com os pingos constantes, abre uma ferida no alto da cabeça.

E as torturas não param por ai. Relatos mais recentes indicam que prisioneiros de guerra no Iraque estavam sendo expostos a longos períodos de música repetitiva, sendo o repertório favorito as trilhas sonoras das séries infantis Vila Sésamo e Dinossauro Barney (“I Love You”), do filme XXX (“Bodies”) e rock, especialmente do Grupo Metallica (“Enter Sandman”). O objetivo seria reduzir a resistência dos prisioneiros através da privação do sono e de música culturalmente ofensiva.

O documentário “Caminho para Guantánamo” relata torturas de 2002 a 2003 ao prisioneiro Mohammed al-Qahtani, considerado o possível 20º sequestrador do ataque terrorista de 11 de setembro de 2001, ele foi submetido a procedimentos que incluíram desde longos períodos de isolamento, exploração de fobias e questões culturais (remoção de roupas e barba), sufocamento por água, privação de sono, “ruído branco” (som em alto volume que não se pode distinguir) e música contínua em alto volume (especialmente Christina Aguilera). Mohamed Farag Bashmilah denunciou ter sido detido nas prisões conhecidas como “buracos negros” entre outubro de 2003 e maio de 2005, nos quais alto-falantes emitiam continuamente ruído branco ou música rap, 24 horas por dia, com as luzes constantemente acesas.

A partir de 6:30 min:

O uso de som em alto volume (música ou outra forma de sons/ruídos), contínuo e repetitivo, ou mesmo intermitente (iniciado e interrompido de forma aleatória), conjugado com o uso de luzes, constantes ou piscando, ou mesmo total escuridão, dentre outras práticas, é extensamente relatado por detidos durante interrogatórios, em torturas e celas (FORSTER, 2008).

Otortura-musica-comercial Brasil recebeu em 1968 de uma equipe britânica, especializada em técnicas de interrogatório um projeto de salas refrigeradas, totalmente escuras, sem janelas e com um ruído sonoro de alta frequência, cubículos com diversas características, um deles uma “câmara de ruídos”, instalados no Rio de Janeiro.
Assim, ao que tudo indica, o rádio (e mesmo a televisão), em alto volume, foram presença constante nas sessões de tortura, cujo objetivo principal consistiria em encobrir os gritos dos torturados e evitar a comunicação entre presos (FORSTER, 2008).

A Revista Scientific American Brasil do mês de setembro publicou uma reportagem sobre os males que o silêncio pode provocar nos presos que passam muito tempo na solitária. Aparentemente esse tipo de penitência prejudica mais do que resolve, os dados indicam um maior índice de violência e danos psicológicos irreversíveis.

Numa sociedade especialmente visual, é fácil não pensar em como as sonoridades podem afetar nossas vidas, mas elas estão em toda parte, influenciando na compra de um produto, na apreciação ou não de um ambiente, na cura de doenças e até mesmo na liberação de informações ao inimigo. É importante ressaltar que é possível bloquear a visão com o fechar dos olhos; na audição, porém, isso não é possível. Sempre estamos ouvindo, é necessário começar a perceber o quanto isso influência as nossas escolhas.

Referências:

Forster, Susan Christina. O Som do Mal. Trabalho de Conclusão do Curso de Pós-
Graduação “Lato Sensu” – Investigação em Musicoterapia. 2008.

http://www2.uol.com.br/sciam/

Cusick, Suzanne G. Music and Torture in the War on Terror: Musicology, Media and Censorship Effects. 2007.

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About the Author

About the Author: É Neurocientista, Palestrante, Yoguini, Influenciadora Digital e Produtora de eventos na Círculo Produções (http://www.circuloproducoes.com). Já foi Dj, dona de loja, garçonete, assistente de cobrança, vendedora, professora de universidade, webdesigner, fotógrafa, especialista em logística de piloto e dona de Club. Ama a música, o cérebro, o universo, a ciência e escrever. .

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  1. domínio disse:

    Bom local você tem aqui… Tem difícil encontrar excelente escrevendo como o
    seu estes dias . Eu seriamente agradeço indivíduos como você!
    Cuide!

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