A música e a depressão

By on janeiro 15, 2013 in MusicaMente with 1 Comment

Parece que foi ontem, mas já fazem mais de 10 anos que meu pai faleceu, muitas lembranças desse dia e dos dias que seguiram foram completamente apagados da minha memoria.

Não consigo lembrar quem estava no enterro ou como fui para casa depois. Mas nunca vou esquecer da música que estava tocando no rádio do carro enquanto estava indo para o hospital, logo após saber da notícia.

Uma grande ironia que a música que ouvi se chamasse “Feeling Good”, naquele momento, eu realmente não tinha cabeça para mudar a faixa do cd, o único que consegui fazer foi ouvi-la com muita atenção e ao mesmo tempo, tentar assimilar o que estava acontecendo.

Não vejo essa música negativamente, muito pelo contrário, ela me conforta, me faz recordar de algo muito triste que passou, o fim de um ciclo cheio de sofrimento. Me faz lembrar também de muitos momentos que vivi com meu pai.

A música pode penetrar direto no coração; não precisa de mediação. E é por isso que há um profundo e misterioso paradoxo nisso, pois embora a música possa nos fazer vivenciar a dor e o luto mais intensamente, ao mesmo tempo nos traz consolo e alivio.r-MUSIC-DEPRESSION-TREATMENT-large570

Muitos estudos falam sobre os benefícios da música em pacientes com depressão, aqui no blog, já vimos que a música ativa estruturas cerebrais que intervém na percepção das emoções, especialmente o complexo amigdalóide e o córtex órbito – frontal, os quais interagem com o hipotálamo, porém deve-se ter cautela e sempre buscar um profissional qualificado para um tratamento pois, apesar de não ter medicamentos pesados envolvidos, a musicoterapia requer intenso relacionamento terapêutico.

O poder da música, para trazer alegria ou tristeza deve insinuar-se na pessoa sem ser percebido e chegar espontâneamente como uma bênção ou uma graça, não há como saber como vai atuar na pessoa uma vez utilizada.

Dentre as artes, a música é a única ao mesmo tempo completamente abstrata e profundamente emocional. Não tem o poder de representar nada que seja especifico ou externo, mas tem o poder exclusivo de expressar estados íntimos ou sentimentos.

 

Referências:

– O Poder da música. Mente e Cérebro, ed 149, junho de 2005.

Sacks, Oliver, Alucinações musicais: relatos sobre a música e o cérebro/ tradução Laura Teixeira Motta. São Paulo, Companhia das Letras, 2007.

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About the Author

About the Author: É Neurocientista, Palestrante, Yoguini, Influenciadora Digital e Produtora de eventos na Círculo Produções (http://www.circuloproducoes.com). Já foi Dj, dona de loja, garçonete, assistente de cobrança, vendedora, professora de universidade, webdesigner, fotógrafa, especialista em logística de piloto e dona de Club. Ama a música, o cérebro, o universo, a ciência e escrever. .

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  1. Achei de uma extrema maturidade você não ter ficado com aversão da música que descreveu…

    Ouvi-la em um momento tão difícil e não misturar uma coisa com outra, foi de uma autenticidade única, e ainda aproveitou a reflexão que ela te proporcionou…

    It’s a new day… dentre outras frases otimistas desta track… Amo Acidjazz…

    Mas falando das músicas reflexivas, tristes e melancólicas…Te confesso que sinto falta delas.

    Nunca me importei com o fato das músicas do passado não serem tão alegres como as de hoje, elas me deixavam mais feliz na verdade que as do presente, porque me faziam refletir…

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